Poemas da filósofa alemã Hannah Arendt

Do livro "Também eu Danço", edição bilíngue com tradução de Daniel Arelli, editora Relicário 2003.

NONA EDIÇÃOPOEMA

12/15/20254 min read

Nachtlied

Nur die Tage laufen weiter,

Lassen unsere Zeit verstreichen.

Stets dieselben dunklen Zeichen

Wird die Nacht uns stumm bereiten.

Sie muss stets dasselbe sagen

Auf dem gleichen Ton beharren,

Zeiget auch nach neuem Wagen

Immer nur, was wir schon waren.

Laut und fremd verlockt der Morgen,

Bricht den dunklen stummen Blick

Gibt mit tausend neuen Sorgen

Uns dem bunten Tag zurück.

Doch die Schatten werden bleiben,

Um den Tag sich scheu zu schliessen,

Lassen wir auf raschen Flüssen

Uns zu fernen Küsten treiben.

Unsere Heimat sind die Schatten,

Und wenn wir zutiefst ermatten,

In dem nächtlich dunklen Schoss

Hoffen wir auf leisen Trost.

Hoffend können wir verzeihn

Allen Schrecken, allen Kummer.

Unsere Lippen werden stummer -

Lautlos bricht der Tag herein.

Canção noturna

Seguem passando os dias,

nosso tempo corre assim.

Com seus escuros sinais

a noite nos cala, enfim.

Ela fala em um só tom

e tem uma só mensagem.

Pouco importa o quanto ousamos,

mostra nossa mesma imagem.

A manhã com seus ruídos

rompe os escuros olhares.

Com mil afazeres novos

dá um novo dia aos lares.

Mas as sombras permanecem

e esquivas fecham o dia.

Deixem-nos por rios céleres

deslizar até outras vias.

Nossa pátria são as sombras

e quando estamos cansadas

a noite e seu escuro colo

nos oferecem consolo.

Com esperança perdoamos

o pavor e a agonia.

Nossos lábios ficam mais mudos

em silêncio irrompe do dia

..................

An die Nacht

Neig Dich, Du Tröstende, leis meinem Herzen.

Schenke mir, Schweigende, Lindrung der Schmerzen.

Deck Deine Schatten vor Alles zu Helle -

Gib mir Ermatten und Flucht vor der Grelle.

Lass mir Dein Schweigen, die kühlende Löse,

Lass mich im Dunkel verhüllen das Böse.

Wenn Helle mich peinigt mit neuen Gesichten;

Gib Du mir die Kraft zum steten Verrichten.

À noite

Consoladora, inclina-te em meu peito.

Silenciosa, alivia meu tormento.

Cobre o que cintila com tuas trevas -

Dá-me refúgio contra a luz que cega.

Deixa-me teu silêncio, o alívio denso,

deixa-me ocultar na sombra o perverso.

Se a luz com novas faces me atormenta,

dá-me o impeto para a ação correta.

...................

Goethes Farbenlehre

Gelb ist der Tag.

Blau ist die Nacht.

Grün liegt die Welt.

Licht und Finsternis vermählen

sich im Dunklen wie im Hellen.

Farbe lässt das All erscheinen,

Farben scheiden Ding von Ding.

Wenn der Regen und die Sonne

ihrer Wolkenzwiste müde

noch das Trockne und das Nasse

in die Farbenhochzeit einen,

glänzet Dunkles so wie Helles -

Bogenförmig strahlt vom Himmel

Unser Auge, unsere Welt.

A doutrina das cores de Goethe

o dia é amarelo.

A noite, azul.

Verde é o mundo.

Luz à treva se entrelaça

no claro, também no escuro.

Já a cor tudo atravessa

distingue as coisas do mundo.

E quando o sol e a chuva

livres da plúmbea querela

unem o seco e o molhado

em casamento-aquarela

brilha o claro, brilha o escuro -

em arco raia no céu

nosso olhar, nosso mundo.

......................

(Ohne Titell)

Geh durch Tage ohne Richt.

Spreche Worte ohne Wicht.

Leb im Dunkeln ohne Sicht.

Bin im Leben ohne Steuer

Über mir nur ungeheuer

Wie ein grosser schwarzer neuer

Vogel : Das Gesicht der Nacht.

[Sem título]

Percorro os dias sem rumo

falo palavras sem sumo

vivo no escuro sem prumo

estou na vida sem leme

sobre mim só o monstruoso

como um grande, negro, novo pássaro:

o rosto da noite.

..............

[Ohne Titel]

Der Sturz im Flug gefangen -

Der Stürzende, er fliegt.

Dann öffnen sich die Gründe,

Das Dunkle steigt ans Licht.

(Sem título]

Erguida em voo a queda -

quem cai, logo voará.

Então com o solo aberto

à luz a treva ascenderá.

...........................

Hannah Arendt (1906-1975) foi uma filósofa e teórica política judia alemã, uma das pensadoras mais influentes do século XX, conhecida por seus estudos sobre o totalitarismo (nazismo e stalinismo) e por conceitos como a "banalidade do mal", desenvolvidos após vivenciar a perseguição nazista e o exílio nos EUA, onde se tornou cidadã e produziu obras como As Origens do Totalitarismo, A Condição Humana e Eichmann em Jerusalém.

Início da Vida e Educação

  • Nascimento: 14 de outubro de 1906, em Linden (Hannover), Alemanha, em uma família judia.

  • Formação: Estudou filosofia com grandes nomes como Martin Heidegger e Karl Jaspers, doutorando-se em 1929 com uma tese sobre Santo Agostinho.

Fuga e Exílio

  • Perseguição: Com a ascensão do nazismo, fugiu da Alemanha em 1933, sendo presa pela Gestapo.

  • Refúgio nos EUA: Após viver em Paris, conseguiu se refugiar nos Estados Unidos em 1941, onde se tornou cidadã em 1951.

Pensamento e Obras Principais

  • Totalitarismo: Analisou as raízes históricas e políticas do totalitarismo, destacando sua natureza e como ele desumaniza o indivíduo.

  • "Banalidade do Mal": Em Eichmann em Jerusalém, descreveu Adolf Eichmann não como um monstro, mas como um burocrata medíocre que simplesmente cumpria ordens, incapaz de pensar criticamente sobre o mal que praticava, gerando polêmica.

  • Condição Humana (Vita Activa): Investigou as atividades humanas fundamentais: trabalho, obra e ação, enfatizando a liberdade e a política como espaços de ação e novos começos.

  • Outras Obras: Entre o Passado e o Futuro, Homens em Tempos Sombrios, A Vida do Espírito.

Legado

  • Arendt não se via como filósofa tradicional, mas como teórica política, escrevendo de forma clara sobre liberdade, poder, ação e a crise da modernidade, influenciando profundamente o pensamento político contemporâneo.

  • ( Gemini/Google).