Desert (quatro poemas traduzidos)

Quatro poemas do livro Desert, do poeta americano David Hinton, traduzidos por Ana Lúcia Franco.

POEMASEXTA EDIÇÃO

10/26/20252 min read

Vem a luz da manhã.

Eu contemplo a sombra planetária

profunda como a cegueira,

e a luz da manhã gradualmente vem,

e formas elementares também: deserto, montanha, céu.

A luz da manhã vem

e a visão se manifesta exatamente

como aconteceu em seus longos e lentos começos,

abrindo este mundo dentro de nós:

deserto planetário, montanha, céu,

quando não havia palavras, nenhuma palavra para nada disso.

Morning light comes.

I gaze into planetary

shadow deep as blindness,

and morning light gradually comes, elemental forms too:

desert, mountain, sky.

Morning light comes

and sight precisely

as it did through

its long slow beginnings,

opening this world inside us:

planetary desert, mountain,

sky when there were no words,

no words for any of this.

Hinton, David. Desert: Poems (p. 1). (Function). Kindle Edition.

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Texto é algo mágico.

É perfeitamente silencioso

como as cristas das montanhas

ou os galhos secos e curvos de videira,

e ainda assim posso reconhecer nesse silêncio

sábias mentes mortas há milhares de anos.

O que somos nós,

olhando através de tanta magia

para todo esse espelho negro e sinuoso?

Text is magical stuff.

It’s perfectly silent

as mountain ridgelines

or dry curlicue vine-twigs,

and yet I can know

in that silence sage

minds dead

now thousands of years.

What are we, looking

through so much

magic into all this twisty black mirror?

Hinton, David. Desert: Poems (p. 71). (Function). Kindle Edition.

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Eles dizem,

significa ser humano:

ferramentas, linguagem,

histórias, talvez.

Parece tão simples.

E, todavia,

o que sou eu

quando o olho,

o espelho-olho profundo,

esvazia a mente de tudo?

Sou um gavião-de-cauda-branca sem história,

inclinando-se abruptamente

em direção a uma correnteza

termal selvagem e fina como um lápis,

com as asas agitadas enquanto sobe em espiral

e finalmente desaparece no céu do deserto.

means to be human,

they say: tools, language,

stories perhaps.

It seems so simple.

And yet what am I

when the eye, the mirror-

deep eye empties

mind of everything

but a storyless white-

tailed hawk banking steeply

into a wild pencil-thin thermal,

wings buffeted

as it spirals up and finally

vanishes into desert sky?

Hinton, David. Desert: Poems (p. 29). (Function). Kindle Edition.

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Acordo todas as manhãs

a mesma pessoa.

Mesma história de vida,

mesma mente, mesmos olhos observando.

Às vezes, quando o tédio parece quase infinito,

eu caminho entre montanhas,

as mesmas montanhas,

céu, céu, e as compreendo perfeitamente.

I wake every

morning

the same person.

Same life- history,

same mind,

same eyes looking.

Some- times, when the boredom seems almost endless,

I walk out among mountains

the same mountains,

sky sky,

and I understand

them perfectly.

Hinton, David. Desert: Poems (p. 49). (Function). Kindle Edition.

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David Hinton nasceu em Utah, EUA, em 1954, é um poeta e tradutor americano especializado em literatura e poesia chinesas, incluindo clássicos taoístas e budistas. Seus poemas e escritos geralmente se concentram em arte, natureza, Taoísmo e Budismo Chan. fonte: Wikipedia (inglês)