A poesia da filósofa Maria Vilani
Poemas extraídos do livro "A Ciranda do Tempo", poemas sobre nossas existências, editora Planeta 2025.
NONA EDIÇÃOPOEMA
12/15/20252 min read


DOR DA FINITUDE
Nós, os mortais, carregamos,
Aquém e além, sentimentos
Aprendidos na estreiteza
Do nosso hábitat existencial,
Eclipsados pela dor da finitude,
Na busca da bem-aventurança,
Mergulhando no redemoinho
Da nossa estreiteza mental.
25-01-2025 | 17h24
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SECRETA FÚRIA
A vida, esse afiado gume,
Alicerçada pelas trevas,
Onde ando a trôpegos passos,
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Alimentando uma secreta fúria,
Nas profundas galerias
Da minha oscilante memória,
Onde perdi a essência da realidade,
Sob um clarão cortante,
Das sombras devorando a luz...
03-06-2023 / 17h00
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ANTIMEMÓRIAS
Por que tanto sofrimento psíquico?
Seriam, porventura, os revezes da vida?
A derrota das ambições humanas?
A vaidade que dura enquanto há vida?
Quando estreamos no palco da vida,
Atuamos como coadjuvantes das lágrimas.
Seria, porventura, o fato de a nossa mente
Não assimilar a certeza da finitude?
Só a mente humana é capaz de entender
A indiferença gélida da presciência da morte,
Em pleno vigor de vida, eivada de desejos
E de traços que desenham antimemórias...
09-03-2025 |17h34
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ANCORADOUROS
A existência ancora-se
Em si mesma ou precisa
De um lugar para habitar?
Assim como as cores
Precisam de seus ancoradouros,
A existência precisa de habitação,
Por meio da qual manifesta
Sua essência e interage com o Mundo.
30-01-2025 / 12h31
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BANQUETE DE SABORES
Minha alma em lacônica agonia
Em busca do silêncio,
Sempre interrompido pela palavra
A mergulhar em seus abismos,
Pensamentos destituídos de paladar.
Num banquete de sabores,
No palacete das noites sem fim,
Palavras tatuam memórias
Nas rasas covas da mente,
Onde sepultam segredos.
22-12-2024 | 15h19
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Viver é amalgamar
Sensações e emoções...
E a mente, alheia à dor do corpo e da alma,
Calcifica em suas membranas a dor do viver...
19-03-2025 | 21h13
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MARIA VILANI GOMES é daquelas pessoas cuja voz, em vez de apenas escrever, planta. Nascida no Ceará e vivendo há quase cinquenta anos no Grajaú, zona sul de São Paulo, ela trilhou uma jornada focada na palavra, na educação e na mudança social através da arte.
Filósofa, pedagoga, poetisa e ativista cultural, ela fundou há mais de três décadas o CAPS Grajaú - Centro de Arte e Promoção Social, ponto de encontro e resistência que utilizava a casa da autora para rodas de conversa, saraus, cursos e ações para a comunidade. Lá, onde o governo muitas vezes não está, ela criou espaços de acolhimento e construiu meios coletivos de criação e identidade.
Autora de uma obra ampla e diversa, publicou livros de variados gêneros e colaborou em mais de dez antologias. Está presente em eventos literários importantes, incluindo o Festival LED, de que é embaixadora junto com o filho, o músico Criolo.
Reconhecida dentro e fora do Brasil, ganhou prêmios como a medalha de bronze no Salão de Artes Machu Picchu (Peru, 1989), o título de Mensageira da Paz pelo Marco da Paz (2013) e a cadeira 66 da Academia de Letras dos Professores da Cidade de São Paulo, onde é membra vitalícia.